É comum nos dias de hoje encontrarmos pessoas de religião afro-brasileira, e que possuem como objeto de culto os Orisa (denominação utilizada de forma genérica por muitos para designar tanto os próprios Orisa, como Vodun e Nkisse), criticando o chamado por eles Africanismo.
E os mais diversos argumentos são utilizados, desde os de cunho preconceituoso e discriminatório, até aqueles que tentam colocar a "raça" brasileira em um patamar de maior evolução que os africanos. E pasmem, africanos estes detentores do culto a Orisa em sua originalidade.
É compreensível até que alguns ajam desta maneira. Afinal, todos esses que adotam essa postura, no meu ponto de vista, são aqueles que durante anos, vivenciaram e aprenderam conceitos de forma superficial, e, após anos vivendo na ignorância, e transmitindo também essa mesma ignorância para seus "filhos de santo", não conseguem, nesta altura de sua trajetória de vida, terem a humildade suficiente para assumirem perante a sua comunidade, que sempre estiveram equivocados.
Fato é também que nós brasileiros, por mais que nos esforcemos, dificilmente conseguiremos aqui em nosso País, reconstituir de forma integral, o culto original. Mas a nossa falta de condições e de capacidade para tanto, não nos dá o direito, a meu ver, de menosprezar a cultura africana, para desta maneira, tentar convencer se não a nós mesmos, a nossos seguidores, que a nossa cultura é melhor... Pelo contrário! Nós brasileiros, que nos apropriamos (ou para alguns se sentirem mais confortáveis - recebemos como herança cultural) do objeto de culto africano, deveríamos ter a humildade suficiente para reconhecer o quão ainda temos que melhorar, para que alcancemos patamar um pouco mais elevado de valores e posicionamento ético frente a cultura de Orisa.
Somente a título de exemplificação do que tento aqui expor, vejam: a maioria dos brasileiros em algum momento da vida já devem ter ouvido falar de Padre Cícero,que graças à fé das pessoas, fez com que Juazeiro do Norte fosse considerado um dos maiores centros religiosos da América Latina, atraindo milhões de romeiros todos os anos. Pois bem... e a maioria das pessoa também já viram a imagem de padre Cícero, com sua batina e seu chapéu...
Já imaginaram se algum dia, os gaúchos do Rio Grande do Sul, resolvessem que, tendo como objeto de culto o mesmo Padre Cícero do Nordeste, deveriam vestí-lo com bombacha e adicionar a sua imagem uma cuia de chimarrão? Deixaria de ser padre Cícero? Claro que não! Mas a sua originalidade já estaria perdida. Provavelmente, os seguidores de Padre Cícero do Norte do País encararia tal atitude dos gaúchos como uma grande ofensa! E isso falando somente de um único País!
E isso se dá com qualquer cultura! Porque toda a cultura possui os seus elementos fundamentais!
Então, sob o meu ponto de vista, os brasileiros de religião afro-brasileira precisam rever seus conceitos... Afinal de contas, quem é que realmente tem motivos de sobra para se sentir ofendido e invadido dentro de sua cultura, religiosidade é fé?
Porque, até onde sei, Orisa não é brasileiro... ou é?
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