domingo, 26 de agosto de 2012

Relação de Consumo Religiosa.



O Brasil possui sua estrutura econômica pautada no consumismo. Muitas das vezes, nem mesmo as representações do Sagrado ficam imunes à lógica do mercado.

Atualmente nos deparamos com o homo religiosus contemporâneo que direciona seus esforços para se relacionar com o Sagrado e com suas representações. Toda essa demanda fortalece a constituição de um mercado de consumo especializado na oferta de bens simbólicos da religião. E a busca por esses bens religiosos tem por finalidade a satisfação dos interesses do fiel consumidor.

Podemos definir os bens simbólicos da religião como sendo os produtos e serviços religiosos oferecidos no campo religioso, capazes de permitir pontos de contato com o sagrado. São muitas vezes bens corriqueiros que, por vários atos litúrgicos recebem atributos especiais que os identificam com o sagrado.

Toda a sociedade brasileira é conhecida pela produção em alta escala de produtos e serviços. E no campo religioso não é diferente. As instituições religiosas se ocupam também em conceber produtos e serviços simbólicos da religião a fim de atender as possíveis demandas de seu público alvo (fiel consumidor).

E no mercado religioso também encontramos os modismos com vista a manter ou multiplicar o seu capital simbólico (capacidade da Organização Religiosa de criar, recriar e difundir os bens simbólicos da religião).

O exercício da necessária liberdade da atividade religiosa em nosso país quebrou com os monopólios religiosos anteriormente instalados. Por outro lado, propiciou a desenfreada proliferação de instâncias promotoras do sagrado, estabelecendo uma competitividade entre diversas organizações religiosas de nosso País. A competição está atrelada a formação do maior número de seguidores.

Nesse sentido, a organização religiosa passa a se preocupar em agradar o fiel consumidor, sob pena de perdê-lo para o concorrente que apresentar ambientes e práticas litúrgicas mais agradáveis aos seus interesses.

Nos ambientes religiosos as mensagens passam a ser articuladas cuidadosamente para atrair um número cada vez maior de fiéis consumidores, deixando de lado a real e necessária interpretação das orientações devidas a cada um dos seguimentos religiosos.

A sociedade brasileira, antes mesmo de formar cidadãos, preocupa-se em formar consumidores. O mesmo se da no campo religioso. O mercado de consumo religioso tem suas estratégias para cativar o fiel consumidor, produzindo-lhes inclusive, pseudo-necessidades de consumo, que em sua esmagadora maioria se encontram em posição de vulnerabilidade, seja ela econômica (frente às grandes potencias econômicas que se tornam facilmente algumas instituições religiosas), técnica (incapacidade de produção de bens simbólicos da religião) e/ou teológica (basta verificar a dificuldade para sustentar pontos doutrinários de sua prática religiosa, mesmo que participe do mercado religioso há muito tempo).

Assim, e deixando de lado, no momento, as implicações legais que essa relação de consumo instituída estabelece, é possível afirmar que as deturpações religiosas ocorridas em nosso meio e mais recentemente atingindo também o culto a Ifá aqui no Brasil - e possivelmente em diversos outros locais do planeta - se deve principalmente à essa relação de consumo que pertence à nossa cultura, que em última instância, visa estender o mercado com a atração de novos fiéis consumidores, deixado de lado seus conceitos, preceitos, dogmas, e até mesmo a própria identidade cultural, para agradar e atender as expectativas de possíveis novos seguidores, atendendo assim à lógica de mercado consumerista que faz parte da cultura brasileira.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Os sacerdotes e o culto a Orisa



Sempre falamos do código de conduta a ser seguido pelos iniciados... mas e os sacerdotes? Espero que gostem deste texto.
Dentro da cultura de Ancestral, além dos diversos elementos englobados, encontramos o fator religioso presente.

O culto a ancestral, diferentemente do que muitos insistem em afirmar, não se constitui uma seita. Como qualquer outra religião, reúne um grande número de leis éticas, morais e liturgias que respeitam nossas raízes ancestrais.

Deus é o mesmo em todas as religiões monoteístas. Nós somosintegrantes de uma religião monoteísta. Apenas o que muda é o nome que usamos para designar Deus... não o seu amor.

Na nossa religião também temos os sacerdotes. Muito se fala sempre sobre as orientações aos Iyawòs e demais iniciados... jamais se fala sobre as obrigações e responsabilidades dos sacerdotes.

Inicialmente cumpre salientar que não são todas as pessoas que possuem em seu destino o caminho para o sacerdócio. Alguns princípios devem ser observados e rigidamente seguidos.

1. Um sacerdote jamais deve enganar o seu próximo, ensinando um conhecimento que não possui. Jamais devemos falar sobre o que não conhecemos ou passar ensinamentos incorretos.

2. Um sacerdote deve saber distinguir atos e objetos profanos de atos e objetos sagrados. Para realizar um ritual é preciso que a pessoa esteja investido do sacerdócio e que possua conhecimentos básicos para realizá-los.

Considerar que todos, indiscriminadamente, tenham essa investidura para ser um sacerdote, não passa de uma mera manipulação de interesses, principalmente financeiros.

Um sacerdote deve ser dotado de atributos éticos, intelectuais, processuais, morais e de bom caráter... Um ser desprovido destes atributos básicos e essenciais jamais será um legítimo e legitimado sacerdote e essa inobservância é que gera diuturnamente muitos maus sacerdotes, que se proliferam em nossa religião.

3. Um sacerdote não deve dar maus conselhos e orientações erradas. É inaceitável que um sacerdote use seu poder e conhecimento religioso em proveito próprio ou para induzir um seguidor a cometer erros.

4. Um sacerdote não deve fazer uso de recursos falsos, fazendo uso de elementos religiosos sem validade. Um sacerdote precisa, acima de tudo, de responsabilidade.

5. Um sacerdote não pode praticar liturgias para o qual não foi ativado através do processo de iniciação, ou cuja prática é desconhecida. É a aplicação prática da famosa frase: somente pode-se dar aquilo que se tem.

6. Um sacerdote deve identificar o tempo pessoal e espiritual de cada seguidor para somente então avançar na transmissão de conhecimento.

7. Um sacerdote não deve ostentar seu conhecimento com o intuito de humilhar ou confundir. Pelo contrário, deve respeitar quem sabe menos . Uma das missões mais importantes do sacerdote é orientar e ensinar

8. Respeito é um dos pilares da religião. E para exigir respeito, é preciso respeitar primeiro. O verdadeiro sacerdote respeita todos aqueles que também lhe respeitam.

É preciso lembrar sempre que a fé não deve ser pautada no medo. A fé deve encontrar seu alicerce no respeito. Porque no final das contas, o verdadeiro sacerdote deseja e espera apenas que seus seguidores tenham amor pela cultura na qual adentraram pelas suas mãos!

sábado, 23 de junho de 2012

Condutas Humanas influenciadas por Orisa. Será???


É natural nos dias de hoje ouvirmos afirmativas no sentido de que uma pessoa tem essa ou aquela personalidade porque influenciada por determinado Orisa. E isso se refere tanto a características positivas quanto negativas. Principalmente negativas nos dias de hoje.

Quem nunca ouviu dizer que fulano tem orientação homossexual por ser de Orisa feminino? Quem nunca ouviu falar que os homens de Ogun são "mulherengos"? Quem nunca ouviu dizer que Ogun gostaria de fazer sexo com a sua mãe? Que Exu violentou sexualmente não sei quem? Quem nunca ouviu dizer que as mulheres de Oyá são "descontroladas", levando a vida muitas vezes de forma promíscua, porque Oyá era assim? E assim por diante. Diversas são as barbaridades ditas pelos que se intitulam de candomblé, mas que não conhecem na realidade, o que é Orisa.

Dentro da cultura Yorubá, todos aqueles que são muito próximos uns dos outros, são considerados casados. Isso se dá tanto com os seres humanos quanto com os Irunmole. Todos os Irunmole são muito próximos um dos  outros, já que reunidos num único propósito: seguir as determinações de Eledunmare.

Os Irunmole não possuem livre-arbítrio, como nós, seres humanos. Todos os Irunmole somente podem agir de conformidade com as ordens de Eledunmare.

Seguindo as palavras de Ifá, nós, seres humanos somos chamados de Eniyan, ou seja, aquele capaz de fazer o bem e o mal. Já os Irunmole somente são capazes de realizar o bem. São a expressão máxima do moralmente correto, pois são diuturnamente "vigiados" pelo criador. São nossos professores, enviados por Eledunmare e, portanto, não são passíveis de cometer erros.

Buscando a origem destas fábulas, histórias ou sei lá que nome dar a isso, encontramos os missionários cristãos que começaram a escrever livros sobre a tradição Yorubá. Em seguida, os mesmos missionários encorajaram as pessoas na diáspora para misturar o por cristianismo com a tradição Yorubá, alimentando ainda mais essas heresias, com o único objetivo de denegrir a religião Yorubá e seus desdobramentos, a fim de conseguirem novos convertidos para o cristianismo.

E aqui no Brasil, todas essas barbaridades encontraram terreno fértil para se propagar, não apenas por missionários do cristianismo, como também por missionários de outros seguimentos religiosos que buscam novos convertidos e ainda, e principalmente, por pseudo-sacerdotes do culto afro que se utilizam dessas barbáries para agradar seu cliente.

Irunmole jamais se rebaixará às más condutas humanas. Irunmole jamais será conivente. Irunmolè jamais influenciará negativamente o ser humano.

E um ser humano digno de Orisa, jamais culpará Irunmole por suas atitudes. Pelo contrário: um ser humano digno de Orisa lutará dia a dia para vencer seus defeitos, buscando em Irunmole a inspiração e as lições que certamente fará de cada um de nós, um ser humano um pouco melhor que ontem, mas ainda pior do que amanhã. 


Após breve ausência... o retorno!

Há alguns meses me ausentei aqui deste espaço. Mas novamente retorno para compartilhar com todos, algumas vivências pessoais inerentes ao culto à ancestralidade, com todos os meus amigos e leitores.

Meu início  no culto a Orisa não foi dos mais agradáveis. Assim como acontece, é claro, com a maioria das pessoas. Poucos são os que têm a sorte de, desde o início, encontrar uma casa séria, e um sacerdote ou sacerdotisa responsável. Hoje, sei que isso também tem uma razão de ser, mas isso será assunto para um próximo texto.

Bom, após longos e sofridos anos, encontrei então a verdade que me serviu sobre Orisa. Conheci também Ifá. Movimentadas as energias certas pelo meu sacerdote, pude receber de Orisa e Ifá a dádiva de recobrar a saúde e, desta maneira, permanecer viva.

Mas é certo também que para qualquer ser humano, não basta viver. Não basta viver com qualidade. Todo ser humano quer e precisa conquistar. E não falo aqui de conquistas materiais. Conquistas materiais são fruto de esforços pessoais e muito trabalho.

Refiro-me às conquistas pessoais. Refiro-me aos bens que não podem ser adquiridos com dinheiro. E estes bens são os que efetivamente são alcançados com o culto a Ifá e Orisa.

Ifá e Orisa me proporcionaram a dádiva de possuir uma família. Propiciaram-me a riqueza da descendência. Propiciaram-me conhecer o verdadeiro significado da palavra amor. Ifá e Orisa inseriram -me definitivamente no conceito de continuidade, de ancestralidade. Algo até então não considerado mais possível.

E tudo isso significa o quê? Para mim, significa que eu estou no caminho certo. Significa que Ifá e Orisa conferiram-me dignidade o suficiente para fazer parte de todo esse sistema ancestral. Significa que Eledunmare se alegra com minha conduta diante do culto a ancestral. 

Pretensão pensar assim? Sinceramente, acredito verdadeiramente que não. A crítica de outras pessoas apenas me fortalece. Pois a cada nova crítica vinda muitas vezes até da maioria humana, sinto-me ainda mais fortalecida para remar contra essa maré instalada... A cada caminho transposto, me resta a certeza e a confirmação de que Eledunmare, Ifá e Orisa se orgulham de mim, do que sou, do que penso, de como ajo, e me consagram a cada dia com mais e mais conquistas!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A fábula do salão de beleza...

Este texto certamente será melhor compreendido pelas minhas amigas mulheres, que vaidosas por natureza, conhecem o universo da beleza como ninguém. Certo também que nos dias atuais muitos homens, conscientes da necessidade de uma boa aparência, também frequentam e conhecem todos os artifícios disponíveis em busca de uma melhor apresentação.

Mas então vamos ao assunto.

Sempre que procuramos um salão de beleza pela primeira vez, buscamos os serviços mais básicos. Uma simples escova na maioria das vezes. E não raro, o profissional da beleza sempre oferece outros serviços, geralmente um belo corte, mais moderno e atual e também uma hidratação para que as pontas duplas e o ressecamento enxergados por olhos "tão profissionais" sejam eliminados.

Após a realização do "trabalho" inicial, quando nos agradamos, passamos a nos socorrer deste profissional sempre que necessário, ou, não raras vezes, todas as vezes que julgamos necessário.

E como "bom profissional que é" o cabeleireiro sempre tem uma novidade para oferecer às suas clientes: uma tintura, mechas para dar luz ao rosto tao lindo da cliente, escovas progressivas que fazem verdadeiros milagres, alisamentos, reflexos, etc, etc, etc. Para acompanhar ainda o pacote, existem os inúmeros tratamentos de hidratação (desde banhos de chocolate a tratamentos ortomoleculares) para a recuperação dos fios danificados por um sem número de intervenções. Isso quando esses tratamentos mais profundos não são indicados logo após o primeiro "trabalho" que não saiu da forma como esperado...

Assim ocorre, até o momento em que a cliente percebe que praticamente não tem mais cabelo. Os fios estão estragados, quebrados, podres, e nada mais resta que o tratamento de choque: corta-se praticamente tudo... Alguns profissionais ainda oferecem para aquisição apliques, perucas alongamentos, na tentativa de esconder, camuflar os danos causados e muitas vezes irreversíveis. A cliente passa então a constantemente continuar gastando para manter certa aparência... Passa agora a ter que gastar para manter bonita a peruca... (pasmem). Trocando a peruca, fazendo escova na peruca, hidratação na peruca, novos modelos de peruca... Até o ponto em que cansada de tanto tentar melhorar a peruca, assume a mesma definitivamente, conformando-se com o estrago realizado lá atrás...

Com a certeza de que nada mudará com este profissional, algumas se aventuram até mesmo a procurar alguns cursos, abrir seu próprio salão de beleza, primeiro para entender o que se passou consigo mesmo e depois, impedir que outras incautas clientes, sofram os danos sofridos... Outras, por falta de critério ou mesmo responsabilidade, também abrem seus salões, repetindo nos cabelos de novas clientes, os mesmos erros cometidos nas suas próprias madeixas...

E assim vamos caminhando... Cabelos sendo estragados... Cabelos sendo raramente recuperados por bons e responsáveis profissionais... Cabelos sendo criticados por outros profissionais... promessas de recuperação imediata dos fios... críticas de outros profissionais (já que o serviço de um sempre é melhor que o serviço do outro)...

Mas esta fábula termina de uma forma diferente... as conclusões ficarão ao critério de cada leitor... A fábula do salão de beleza Candomblé certamente continuará atual por muitos e muitos anos... com as mais variadas conclusões...

Um viva aos Bons Profissionais deste Salão!

domingo, 15 de abril de 2012

Culto a Orisa Osoosi na Nigéria

Muito se fala aqui no Brasil sobre a decadência do culto a Orisa na Nigéria.

Muitos inclusive afirmam que o culto a Osoosi não mais existiria em solos Africanos.

Em virtude de todas essas informações equivocadas, postei um vídeo neste blog, que mostra sacerdotes e sacerdotisas de Orisa Osoosi, em festividade realizada na cidade de Sagamu, Ogun State, Nigéria.

Estas sacerdotisas dançam, cantam e exibem os instrumentos que os identificam com esse Orisa.

Novamente aqui vale aquela velha máxima: "não é porque a maioria não conhece, que não existe".

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Ogunda Irete: A importância da nossa família, nossa linhagem.

Bile ba baje
A tun ko
Bona na baje
A tun ye
Booko Baba eni ba baje
Eni a dirankiran
Eni a deeyankeeyan
Difa fun Ogun
Nijo ti lo ree dajo awon odale eniyan
Nje Booko Baba eni ba baje
Eni a dirankiran
Eni a deeyankeeyan
Riru ebo
Eeru atukesu
e waa bani laarin ire
Marinrin ire laa bani lese ope


Tradução

Quando a casa é destruída
Podemos reconstruí-la.
Quando uma estrada é destruída
Podemos reconstruí-la
Quando o nome de um pai é destruído
Ageração torna-se em ruínas.
A geração torna-se obliterada
Advinhação feita para Ogun
No dia em que ia julgar o caso dos rebeldes
Poranto quando o próprio nome da linhagem é destruída
Ela se tornaria em ruínas
A geração seria destruída
Oferta de sacrificio
E presentes para Esu.
Venha conhecer-nos com boas novas
Um deles será encontrado com boas novas na base da palmeira.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Até onde pode ir a nossa fé?

Este texto foi enviado por Yuri Neira através de e-mail, solicitando autorização para publicação.
Espero que os leitores deste blog gostem do conteúdo e, diante da iniciativa do leitor Yuri, animem-se em enviar também as suas colaborações, que sempre serão bem-vindas!




Às vezes me pego pensando, até onde pode ir nossa fé? Tem
algum certo limite?
Fico me questionando, porque tantas pessoas abandonaram o
culto a Orisa? Será que a proposta feita pelo zelador não conseguiu ser
alcançada? Ou as decepções e desilusões foram tão autenticas que a fizeram
desistir?
Onde podemos buscar a resposta para tudo isto?
Quem é o errado? A pessoa ou Orisa?
Ou a falta de preparação do zelador?
E você, que está lendo... Em todos os jogos de búzios que
zeladores (as) foram consultar, quantos deles falaram que deveriam dar um
Egbori? Ou ate mesmo iniciado? Para que os problemas acabassem... Quantas
dessas pessoas acreditaram e se iniciaram sem ao menos saber o que é o Culto a
Orisa, com a doce ilusão, que a inocência da vitima chega a ser cruel... De que
todos os problemas iriam estar resolvidos dentre 21 dias recolhidos. 
Relativamente, os dias vão passando e a vida continuando...
E cadê os problemas resolvidos? O que antes era a maravilhosa solução acaba se
tornando seu maior problema. Tudo isto ocasionado pela pressa, desespero e
despreparo do Zelador que por incrível resultado, interfere para o resto da
vida da pessoa iniciada, o destino.
E nosso culto a Orisa? Como ficam todas essas pessoas que agem intencionalmente com o interesse de prejudicar alguém, ou ainda involuntariamente, com o conhecimento recebido incorretamente?Fé, o que seria? Uma autoconfiança? Ou apenas uma coisa
abstrata que nos ajuda a chegar ao ponto desejado? Pois é, a fé... Ela nunca
nos abandona, sentimos que não estamos sozinhos. A fé é aquela força interna, a
força da vontade... E com ela, tudo fica mais fácil.  Alias, precisamos dela para alcançar nossos
objetivos, ela nos dá força, energia para expelirmos a força que existe dentro
de nos para superarmos supostas situações em nossas vidas. A fé sempre chega
para apaziguar.
Todos nos precisamos de Fé. E sabe por quê? Por que
precisamos acreditar, mas acreditar com conhecimento, porque ter fé e acreditar
sem conhecimento já é loucura.
A fé se manifesta de várias maneiras e pode estar vinculada a questões emocionais e a motivos considerados moralmente nobres ou estritamente pessoais e egoístas.
A fé pode ser vista de duas maneiras no contexto religioso, que alguém aceita as visões dessa religião como verdadeiras. Que alguém é leal para com uma determinada comunidade religiosa.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

E A BATALHA CONTINUA...

Inicialmente quero aproveitar para desejar a todos que acompanham este espaço, um feliz 2012 repleto de todas aquelas coisas que desejamos uns aos outros nesta ocasião, mas em especial, que possam nesse novo ano que se inicia, viverem sempre com dignidade, desenvolvendo cada dia mais o bom caráter, alcançando assim o direito a uma vida longa.

Hoje em um debate do qual participei, me deparei com a seguinte indagação: É possível um sacerdote de Osun iniciar um Elegun ao Orisa Òbá? E as respostas foram uníssonas no sentido de que Sim. Que Orisa não conhece as intrigas impostas pelos seres humanos. Que Orisa é superior a tudo isso. Que se a pessoa foi iniciada e está feliz, é sinal de que tudo anda bem! E assim por diante.

E também para variar, a única pessoa que discordou da esmagadora maioria foi eu (rs..).

Colocarei aqui o meu ponto de vista, baseado na cultura que sigo, da maneira mais simplória possível, propiciando assim a todos o entendimento dos meus argumentos. Vejamos:

1. Voltando ao tema posto para análise anteriormente, volto a questionar: como pode um sacerdote de Osun, que foi iniciado no culto a Osun, que supostamente absorveu conhecimento sobre o culto a Osun, que recebeu o sacerdócio referente a cultura de Osun, que possui o asé de Osun, transmitir qualquer outro asé, qualquer outro conhecimento cultural, que seja diferente do culto a Osun? Não obtive resposta.

2. Outro ponto a ser ressaltado nesta situação específica entre Osun e Òbá refere-se à especificidade de culto ancestral feminino inerente a cada um destes Orisa. Osun instituiu a Sociedade Gelede, formada por mulheres para o culto a ancestralidade feminina. Já Òbá é a responsável pela criação da Sociedade Eleeko, também voltada ao culto ancestral feminino, mas que em nada se assemelha à sociedade criada por Osun.
E fato importante é que uma não é bem vinda dentro da sociedade da outra.
Por outro lado, esse culto é fundamental para a complementação da iniciação de Eleguns deste Orisa.
Novamente perguntei: como pode então um homem de Osun propiciar essa complementação à um Elegun de Òbá??? E novamente fiquei sem respostas.

3. Após este debate fui surpreendida com a afirmação de que a busca pelo fundamentalismo inviabiliza o culto a Orisa no Brasil! Como resposta, ofereci uma afirmação e um novo questionamento que agora compartilho com vocês: se fundamentalismo se refere a algo que é fundamental, se deixarmos de buscar o fundamentalismo o que acontece? Deixa de ter fundamento. E se não tem fundamento, existe porventura Orisa??? Ainda continuo sem a resposta dos outros debatedores...

O culto a Orisa em solo brasileiro é perfeitamente possível, desde é claro que devidamente fundamentado na sua origem cultural. Culto a vários Orisa num único espaço também é possível, desde que mantida a sua individualidade. Todavia, isso significaria para muitos um retrocesso.

Mas o que é o culto a Orisa senão a busca no passado de soluções para o presente, propiciando assim um futuro melhor?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

PAIS E MÃES DE TODOS OS SANTOS

Dentro do culto a Orisa, nas mais variadas vertentes é visto com naturalidade a prerrogativa do sacerdote responsável pela comunidade de asé iniciar todos os freqüentadores, que se tornarão filhos de santo.

É também uma constante e realidade o fato de que dentro do culto a Orisa, uma pessoa somente pode dar aquilo que ela tem a oferecer. E isso também está relacionado com a transmissão de asé. Uma pessoa somente pode transmitir a energia da qual é detentora.

Partindo dessas premissas, um questionamento se faz necessário: como pode um sacerdote iniciado em um único (ou no máximo em dois) Orisa iniciar pessoas nos mais diversos cultos, de diferentes Orisa, sem possuir o asé desses outros Ancestrais? Como pode iniciar alguém num culto do qual não faz parte?

Muitos podem dizer: Ah! Mas no candomblé sempre foi assim! Ledo engano! O candomblé não se originou nesse molde que hoje é adotado! O candomblé se iniciou com a reunião de pessoas que já vinham de seus locais de origem iniciadas no culto de seus ancestrais. E dessa reunião, no mesmo espaço, e sob a direção de uma sacerdotisa, originou-se o que hoje todos chamam de candomblé.

Mas voltando ao assunto, quando uma pessoa é iniciada, ela adentra não à instituição candomblé. O neófito inicia-se dentro do culto de um Orisa, abrigado na cultura brasileira pela instituição candomblé.

Além do mais, os sacerdotes de culto brasileiro, quando recebem seu título, seja com 01,03, 07 ou quando tiverem dinheiro suficiente para galgar nível sacerdotal, não recebem o asé de todos os Orisa. Recebem apenas e tão somente o título de sacerdote no culto ao Orisa no qual foi iniciado!

Portanto, e mesmo sabendo que aqui o culto brasileiro a Orisa hoje se desenvolve baseado no conceito de que um pai ou mãe de santo pode iniciar uma pessoa no culto de qualquer Orisa, eu não poderia deixar de atentar para essa situação contraditória que se encontra instalada.

Restam as perguntas: Um pai de santo de Ogun tem asé de Osún para transmitir na iniciação? Uma mãe de santo de Oyá tem asé de Osunmarè para transmitir a uma outra pessoa?

Pais e Mães de Santo que adotam o sistema de culto brasileiro a Orisa são pais e mães de santo de todos os santos?

Diante destes questionamentos é que reafirmo o fato de que nem todos os iniciados no culto a Orisa tem caminho para alcançar o sacerdócio. E caso seja identificado esse caminho, desde a iniciação até a obtenção do título de sacerdote, o iniciado precisa acumular iniciações nas mais diversas culturas, para então, e somente então, ter algo a transmitir aos que se propõem iniciar no culto a Orisa.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

E AGORA CANDOMBLÉ?

Pois bem, após todos esses vídeos que postei, acredito que o mínimo que posso perguntar é: E AGORA CANDOMBLÉ?

Pessoas que fazem parte dessa religião simplesmente em rede nacional, defendem o seu fim e ninguém fala nada?

Onde estão todos os grandes do candomblé? Onde estão aos responsáveis pelos Ase Osumarè, Gantois, Casa Branca, Portão, Muritiba, Alaketu, Bate Folha? Onde estão os antigos do candomblé que até agora não se manifestaram?

Falo dos grandes brasileiros para não perder tempo citando todos aqueles que povoam a net na defesa dessa religião brasileira, posicionando-se contrariamente ao resgate cultural de Orisa.

Agora eu quero saber quem é que vai consertar isso tudo o que se formou e que está colocando em risco o meu direito de cultuar Orisa de maneira digna e respeitada socialmente...

O candomblé está reduzindo a todos à condição de criminosos. Realizar práticas rituais acaba de se tornar crime! E agora candomblé?

Até quando teremos que nos sujeitar a esse tipo de humilhação? Até quando teremos que nos utilizar de subterfúgios para exercermos nosso direito à liberdade de culto? Até quando teremos que afirmar a partir de agora que os animais utilizados servem unicamente para serem consumidos nas festas, não havendo nenhum significado litúrgico para a imolação? E agora candomblé?

Muitas casas tradicionais devem se achar protegidas pelo tombamento, não é? Mas o tombamento é do Prédio... e principalmente por ser um prédio tombado, sabiam que não pode ser utilizado para a prática de crime? E agora candomblé?

Eu não tenho que me esconder! Eu não tenho que dar desculpas esfarrapadas! O que eu quero é que as religiões brasileiras de matriz africana resolvam tudo isso! Quero que consertem o erro de durante séculos terem se calado diante de todo o tipo de marginalização imposta! Quero que os responsáveis pelo candomblé se posicionem! Quero saber como fica diante do candomblé uma pessoa que se diz iniciada e, em rede nacional, escracha com ritos sagrados de todo um grupo social! E agora candomblé?

O candomblé é uma instituição religiosa...pois bem: cadê o representante legal dessa instituição para defender seus seguidores? A força do candomblé está apenas na linguá pra falar mal da vida alheia? para falar mal da vida do pai de santo vizinho? Cadê os argumentos sólidos e coerentes do responsável pela instituição? Não existe não é? E agora candomblé?

Alguns dizem que Orisa está acabando na Africa... pois aqui nem começou... e o pouco que existe, está fadado a ser reduzido à prática de crime... E agora candomblé?

E AGORA JOSÉ?

Sem medo de me parecer repetitiva, volto novamente ao assunto veiculado pela RedeTv esta semana, que relaciona o crime de maus-tratos a animais com as religiões de matriz africana.

Vejam este vídeo:



Então pergunto: E agora José?

Será que o funcionário da RedeTv já trocou de religião? Porque o funcionário da Rede Tv não levou opai de santo dele, que realizou a cerimônia de seu casamento, para ser questionado inclusive por ele a respeito dos rituais realizados a Orisa?

Por que será que a invasão da reportagem em conjunto com advogados e polícia não aconteceu na casa do pai de santo do funcionário da Rede Tv, que por sinal também fica em Santo André?

Será que o candomblé do Pai de Santo do funcionário da Rede Tv é vegetariano? Será que lá os Orisa são vegetarianos? Será que lá Osun se contenta com uma folha de alface, dispensando as galinhas ou uma bela cabra?

Onde está o repeito às  convicções pessoais que o mesmo funcionário da Rede Tv exigiu quando o assunto se referia à sua satisfação pessoal? É correto exigir respeito quando não se respeita?

São tantas as dúvidas... são tantas as perguntas... e agora José? Quem vai responder a tantas indagações?

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Programa de TV e Falta de Representatividade






Esta semana, durante o Programa Super Pop da Rede TV, pudemos acompanhar um debate referente ao tema Maus-Tratos a animais. Inúmeras imagens foram veiculadas, mostrando cenas emocionantes de cachorrinhos, gatinhos e outros animais. Não sendo ainda suficiente, relacionaram os citados maus-tratos às religiões de matriz africana, atribuindo às práticas rituais a mesma conotação pejorativa dada àqueles que cometem atos de crueldade com animais domésticos.

Diante de tantos absurdos ditos em tal reportagem, escolhi apenas um aspecto para comentar, por julgá-lo ser neste instante o ponto de maior importância para todos nós que adotamos como religião, o culto a Orisa.

Sob meu ponto de vista, foi lamentável a participação do Umbandista selecionado para representar toda a comunidade de culto afro-descendente do Brasil. Causou-me espanto a falta de argumentos utilizados. Causou-me espanto um umbandista (que em tese não oferece elemento vital animal em seu culto) tenha sido escolhido para representar uma cultura da qual não faz parte. Causou-me espanto as afirmações do representante designado no sentido de que os sacrifícios são feitos apenas para utilizar a carne para a alimentação (se assim for, basta se dirigir a um açougue e comprar a carne politicamente correta, não é?).

Os argumentos jurídicos utilizados pelo representante umbandista foram extremamente primários. Os demais argumentos foram, no mínimo infantis. Não deixaram ele falar? Claro! As pessoas somente estão dispostas a ouvir aqueles que realmente tem algo a dizer. E infelizmente não foi o caso. Argumentos do tipo: “você não conhece a umbanda”, “você não  conhece o candomblé”, “tenho 20 e tantos anos de religião”, “minha família é umbandista e tenho uma filha advogada” não são passíveis de consideração num debate onde as pessoas são preparadas para defender as suas idéias com argumentos sólidos.

Em nenhum momento, foram utilizados argumentos culturais e sociais de toda uma nação. Em momento algum foram utilizados argumentos que demonstrassem a enorme distância que existe entre maus-tratos a animais e ofertas rituais. Em nenhum momento foi argumentado no sentido de se explicar qual a finalidade da utilização de uma força vital em benefício de outra vida.

Os outros debatedores utilizaram o conceito pejorativo da “macumba e despacho” que está enraizado no conceito de candomblé no Brasil.

Lamentei também a postura do representante umbandista, criticando o pai de santo de Santo André. Criticou-o pq ele não é filiado à Federação do umbandista? Isso não é argumento. E aquele indivíduo, marmoteiro ou não, é o retrato da instituição candomblé no Brasil. Filiado ou não, deveria ter sido defendido já que representante (mesmo que ilegal) de uma religião brasileira.

Fico indignada com o fato de que em todos os setores os menos favorecidos são sempre sub-julgados... Porque a reportagem do programa não invadiu uma casa tradicional de candomblé, como o Gantois, Opo Afonjá,, etc..., seja na Bahia ou mesmo em Sp, para então mostrar os ditos “maus-tratos”? Por que não invadiram Centros Culturais luxuosos existentes em São Paulo, Rio de Janeiro? Por quê????

Seria por questões religiosas? Ou será que também o financeiro nesta hora crucial é fator dominante? Ou será que é porque estas grandes casas são freqüentadas por políticos, empresários, artistas?

A “profecia” está se realizando..E o fim está próximo. Não temos representantes preparados. Não temos pessoas com argumentos sólidos. Não temos organização. E a instituição está fadada ao extermínio... Daqui uns dias, todos passarão de candomblecistas a criminosos...

domingo, 18 de setembro de 2011

Breve descrição histórica de Osogbo


Acredita-se que a cidade de Osogbo foi fundada por volta de 400 anos atrás. É parte da comunidade mais ampla iorubá, dividida em 16 reinos. Diz a lenda que foram governadas pelos filhos de Oduduwa, o fundador mítico, cuja morada em Ile-Ife, a sudeste de Osogbo, ainda é considerado como o lar espiritual de o povo iorubá.
O mais antigo assentamento parece ter sido no Bosque Osogbo, incluindo-se palácios e um mercado. Quando a população expandiu a comunidade mudou-se para fora do bosque e criou uma nova cidade.
Em  1840, Osogbo se tornou uma cidade de refugiados para as pessoas que fugiam da Jihad Fulani.
Os ataques Fulani em Osogbo foram repelidos e, como resultado, Osogbo se tornou um símbolo de orgulho para todos os iorubás.
Durante a primeira metade do século 20, a cidade de Osogbo expandiu consideravelmente. Em 1914 o governo colonial britânico começou. Foi entregue sob um sistema de governo indireto através governantes tradicionais, a autoridade do Rei e sacerdotes foram sustentadas. A maior mudança foi provocada a partir de meados do século 19 através da introdução do islã e do cristianismo. Islã se tornou a religião dos comerciantes e casas de decisão . Por um tempo, todas as três religiões co-existiram, mas como o passar do tempo tornou-se menos na moda ser identificado com o Ogboni e cultos a Osun.
Na década de 1950 as mudanças políticas e religiosas combinadas estavam tendo um efeito prejudicial na Floresta: responsabilidades habituais e as sanções foram enfraquecendo, santuários estavam se tornando negligenciados e sacerdotes tradicionais começaram a desaparecer. Tudo isso foi agravado por um aumento nos saques de estátuas e esculturas móveis para alimentar um mercado de antiguidades. Neste período, os arredores do bosque adquiridos pelo Departamento de Agricultura e Florestas para experimentos agrícolas. Árvores foram derrubadas e plantações de teca estabelecidas; esculturas teriam sido roubados e caça e pesca começaram a ser permitidos - antes proibidos no Bosque Sagrado.
Foi neste momento crucial da história do bosque que aaustríaca Suzanne Wenger mudou-se para Osogbo e, com o incentivo do Rei e com o apoio da população local, formaram o movimento Nova Arte Sagrada para desafiar especuladores de terra, repelir invasores, proteger santuários e começar o longo processo de trazer o lugar sagrado de volta à vida, estabelecendo-o como o coração sagrado de Osogbo.
Os artistas deliberadamente criaram grandes, pesadas ​​e fixas esculturas em cimento, ferro e barro, em oposição aos tradicionais de madeira menores, a fim de que suas formas arquitetônicas intimidatórias ajudariam a proteger o Bosque e inibir os roubos. Todas as esculturas foram feitas em pleno respeito pelo espírito do lugar, com a inspiração da mitologia iorubá e em consultas com os deuses em um contexto tradicional.
O novo trabalho fez com que o Bosque voltasse a ser um símbolo de identidade para o povo iorubá.Muitos da diáspora Africano agora empreendem numa peregrinação ao festival anual.
Em 1965 parte do Bosque foi declarado um monumento nacional. Em 1992, sua área foi estendida, de modo que agora são 75 hectares protegidos.

Fonte: UNESCO.



Bosque Sagrado de Osun - Osogbo

A densa floresta do Bosque Sagrado de Osun nos arredores da cidade de Osogbo, é um dos últimos remanescentes da floresta primária no sul da Nigéria. 

Considerada como a morada da deusa da fertilidade Osun - uma das que integram o panteão de desuses Yorubá - a paisagem do bosque e de seu rio sinuoso é pontilhada com santuários e templos, esculturas e obras de arte em homenagem a Osun e outras divindades. 


O bosque sagrado, que é agora visto como um simbolo de identidade para todos os povos Yorubá, é provavelmente o último na cultura Yorubá.




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O Bosque Sagrado de Osun é o maior e talvez o único remanescente de um fenômeno generalizado, uma vez que usado para caracterizar cada assentamento iorubá. É uma expressão tangível do iorubá e de sistemas divinatórios; o seu festival anual objetiva a busca por uma vida próspera e de prosperidade,  fortalecendo o vínculo entre as pessoas, seu governante e a deusa Osun.

O bosque abrange 75 ha de floresta circunscritos ao lado do rio Osun, na periferia da cidade Osogbo, Western Nigéria. Cerca de 2 milhões de pessoas vivem em Osogbo.O bosque, para os Yorubás, é o domicílio de Osun, a deusa da fertilidade. Os caminhos durante o  ritual levam devotos a 40 santuários, dedicados a divindades iorubá Osun e outros, e para nove pontos específicos de culto ao lado do rio. Osun é a personificação do iorubá "águas da vida" e a mãe espiritual do município Osogbo. Ele também simboliza um pacto entre Larooye, o fundador da Osogbo, e Osun. Segundo suas crenças, a deusa daria prosperidade e proteção para o seu povo se eles construíssem um santuário a ela e respeitassem o espírito da floresta. Ao contrário de outras cidades iorubás cujo sagrados bosques têm atrofiado, ou desapareceram, o Bosque de Osogbo, ao longo dos últimos 40 anos, foi re-estabelecido como um foco central de vida da cidade. O Bosque Osogbo é agora visto como um símbolo de identidade para todos os povos iorubás, incluindo os da diáspora Africana, sendo que muitos dos quais fazem peregrinações ao festival anual.




O bosque tem uma floresta razoavelmente tranquila, que suporta uma flora rica e diversificada e fauna - incluindo o macaco branco- ameaçado de extinção. Algumas partes foram atingidas no período colonial, e as plantações de teca e agricultura foram introduzidas, mas esses locais estão agora sendo recuperados. O bosque é um santuário sagrado onde santuários, esculturas e obras de arte horam Osun e outras divindades Yorubas. Tem cinco principais divisões sagradas associadas com diferentes deuses e cultos.

O rio Osun serpenteia através do bosque inteiro e ao longo de seu comprimento são nove pontos de adoração. Em toda extensão o largo rio é margeado por árvores da floresta. Suas águas significam uma relação entre a natureza, os espíritos e os seres humanos, refletindo o lugar dado à água na cosmologia iorubá como simbolizando a vida. O rio é acreditado ter poder de cura, poderes de proteção e fertilidade. Os peixes dizem terem sido usados pela deusa Osun como mensageiros da paz, bênçãos e favores.



 


Tradicionalmente, árvores sagradas, pedras e objetos de metal, juntamente com lama e esculturas em madeira, definem as divindades no bosque. Durante os últimos 40 anos, novas esculturas foram erguidas no lugar dos antigos e gigantes, os imóveis criados em espaços ameaçados no bosque. Estas esculturas são feitas de uma variedade de materiais - pedra, madeira, ferro e concreto. Há também pinturas nas paredes e tetos decorativos feitos de folhas de palmeira.
Há dois palácios. A primeira é a parte principal do santuário a Osun em Osogbo. O palácio é o local onde segundo a crença dos Yorubás Larooye mudou-se para diante da comunidade estabelecer um novo assentamento fora do bosque. Ambos os edifícios são construídos com paredes de barro com telhados de zinco suportado variadamente por lama e pilares de madeira esculpida. 
O festival anual de Osun em Osogbo é um evento de 12 dias realizado uma vez por ano no final de julho e início de agosto. O bosque é visto como o repositório da realeza, assim como o coração espiritual da comunidade. O festival invoca os espíritos dos reis ancestrais, O rei oferta presentes para Osun, bem como reafirma e renova os laços entre as divindades representadas no Bosque Sagrado e o povo de Osogbo. O final do festival é uma procissão de toda a população, liderada pela Arugba e chefiada pelo Rei e sacerdotes, todos acompanhados por tambores, cantando e dançando.


 Fonte: UNESCO.

sábado, 17 de setembro de 2011

Ritual de Ipadè

Várias são as conotações dadas para a palavra ipadè dentro de diferentes culturas no candomblé.

Aterei-me aos conceitos inerentes à cultura de Orisa de minha comunidade. Denominamos ipadè a reunião para Esu.

E a reunião não é de outros Orisa, mas sim, de energias que controlam todos os movimentos espirituais da nossa comunidade.

Durante o ritual de ipadè para Esu, louva-se a ancestralidade feminina (através de Iyaami) e masculina (através de Egungun). A reunião destas duas energias é então encaminhada a Esu para que ele a movimente de forma direcionada,equilibrando-as por determinado tempo.

É certo que durante o ipadè são citados os nomes de Orisa femininos e masculinos. Todavia, estas citações são efetuadas de forma representativas das ancestralidades masculinas e femininas.

O ipadè é realizado uma vez por ano obrigatoriamente. Porventura, havendo determinação de Ifá, realizar-se-á quantos rituais forem necessários para que o equilíbrio seja restabelecido.

Durante a celebração do ritual é necessário conhecer os principais e melhores caminhos de Esu, para que se direcione adequadamente a energia movimentada e reunida, visando assim, alcançar de forma satisfatória os objetivos individuais e os objetivos também de toda a comunidade.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A Última Alternativa!

Duas são as classes dominantes das pessoas que procuram o candomblé no Brasil: os desesperados e os excluídos socialmente.

Todas as pessoas que passam por dificuldades na vida, e que sozinhos não conseguem superá-las busca o auxílio religioso. Primeiro, buscam a Deus nos mais diversos seguimentos religiosos (igreja católica, protestante, budismo, etc...) socialmente aceitos.

Se ainda assim nada for resolvido e, como se chegassem a conclusão de que Deus nada fará por eles, acabam por buscar então o candomblé, atrás de uma "mágica" que resolva todos os problemas instantaneamente.

Encaram o candomblé como o caminho a ser seguido por todos aqueles que Deus abandonou.

Todo esse grupo, forma o contingente que aceita todo o tipo de humilhação; entende Orisa como o agente punidor, que dá surra e que não o ajuda também por ser uma pessoa que comete muitos erros. Só que os erros agora não são cometidos com Deus, mas sim com os pais e mães de santo, com a casa e com o próprio Orisa.

O segundo grupo dominante do candomblé é aquele formado por todos aqueles que são excluídos socialmente e que teriam, para fazerem parte de outra religião, que modificar drásticamente o modo como escolheram levar a vida.

Por encontrarem no candomblé a abertura tão almejada, acabaram por se apossarem da cultura como um todo, modificando as regras pré-existentes, modificando histórias, adicionando elementos inexistentes na religião candomblé original, enfim, transformando o candomblé nisso que encontramos hoje.

Este segundo grupo acabou por dominar o grupo dos desesperados, e hoje estão no comando. E os que também são excluídos socialmente, mas que ainda não alcançaram o posto de dirigente, almejam isso como quem almeja a própria redenção.

Muitos, com certeza, podem discordar do que eu digo. Mas como eu sempre digo, a minha intenção não é agradar. Pelo contrário. Acredito que as pessoas devem parar de tampar o sol com a peneira, e tomarem consciência de que o candomblé pensado no início, simplesmente não existe mais. É preciso que as pessoas deixem de ter em suas mentes que Orisa é mágica. É preciso que as pessoas deixem as mistificações de lado.

O culto a Orisa precisa de pessoas que não tenham Orisa como última alternativa, mas sim, como primeira alternativa. Precisamos de pessoas que entendam que no passado encontraremos respostas e forças para fazer um futuro melhor, para que possamos caminhar no destino pré-estabelecido, conquistando dia após dia,   o direito de viver nessa terra com dignidade.

Mais uma conquista do Egbé Asé Elempé


Gostaria de compartilhar com todos os meus amigos mais uma conquista do Egbé Asé Elempé.

Após decidirmos compartilhar com todos a nossa concepção de cultura de Orisa (que visa primordialmente resgatar os valores do povo Yorubá, perpetuando o conhecimento milenar daquele povo com relação à ancestralidade), decidimos que seria importante adquirirmos um local específico para esta cultura, que servirá, num futuro próximo, de ponto de apoio e pesquisa para todos aqueles que buscarem a originalidade do culto a Orisa.

E assim foi feito.

A área destinada para a consecução destas metas já nos pertence.





Sistematicamente publicarei aqui a evolução da construção, para, num futuro bem próximo, poder convidar a todos para a inauguração.

Espero poder contar, nesta ocasião, com a participação de todos os amigos!

sábado, 27 de agosto de 2011

A Etica e a Moral na Religião Tradicional Africana


Ao contrário do que muitos pensam, a ética e a moral são de importância substancial no pensamento e na vida dos africanos, que são baseadas nos costumes, em leis tradicionais, tabus e tradições de cada um dos povos da África. Deus é visto como o derradeiro sancionador e sustentador da moralidade. O relacionamento humano pelo parentesco e vizinhança é extremamente importante e a ética e moral tradicionais são construídas, largamente, através das relações humanas.

Moralidade pode ser resumida, em Yorùbá, pela palavra Ìwà - caráter. Os Akan de Gana chamam o caráter de Suban. Caráter é a essência da ética africana e sobre ele se estabelece a vida de uma pessoa. Deus exige que o homem seja puro eticamente. Deus é o buscador de corações, que a tudo vê e sabe e cujo julgamento é correto e inevitável. Deus julga os homens por seu comportamento aqui e agora, bem como no porvir. Dessa forma a paz na vida após a morte é decidida de acordo com a moral exercida, pelo ser humano, sobre a terra. Mau comportamento pode destruir o destino de uma pessoa, enquanto bom caráter é uma armadura suficiente contra o mal e a desgraça.

Os costumes regulam o que deve e o que não deve ser feito. De acordo com Mbiti: "Roubar, agredir as pessoas, mostrar desrespeito aos mais velhos, mentir, praticar feitiçaria, dormir com a mulher de alguém, matar, caluniar as pessoas e assim por diante são consideradas grandes ofensas, que podem ser severamente punidas pela sociedade através do degredo, indenização, pagamento de multas, espancamento, apedrejamento e até mesmo a morte. Por outro lado, a bondade, a cortesia, a generosidade, a hospitalidade, o respeito, a diligência, a frugalidade e o trabalho duro são aspectos da moral ensinadas às crianças em várias comunidade africanas, como princípio básico de vida." (Mbiti, John. Introduction to African Religion. London:Heinemann.
Os Yorùbá e, na verdade, os africanos têm a moralidade como a essência que torna a vida alegre e agradável. Para os Yorùbá, segundo Bólájí Ìdòwú, o bom caráter (ìwà rere) deve ser a mola mestra na vida das pessoas. De fato é isso que distingue o ser humano dos animais. Quando os Yorùbá dizem de alguém O şe Ènìyàn (os atos da pessoa), querem dizer que ela se comporta como deve, ou seja, ela mostra que sua vida e suas relações com os outros são regrados pelas suas melhores características. A descrição contrária kìí şe ènìyàn, n şe lof’awon ènìyàn bora (Ele não é uma pessoa, ele assumiu a pele de uma pessoa). Isso significa que a pessoa é socialmente indigna; em consequência de sua característica, não está apta a ser chamada de pessoa, embora tenha a aparência de uma.

Em geral, deve-se dar ênfase a que Deus, as divindades e os antepassados requerem um bom comportamento dos seres humanos.

Mas podemos perguntar por que as pessoas que seguem a Religião Tradicional Africana, assim como os seguidores de outras religiões (cristianismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo etc), praticam atos imorais? A resposta é simples: hoje, muitas pessoas professam uma determinada religião, porém deixam de agir de acordo com os princípios e os ditames dessa mesma religião, que é a principal causa para os atos de corrupção, violação dos Direitos Humanos, péssimas práticas eleitorais, etnicismo, bem como outras práticas imorais e aéticas.

No entanto, esses problemas não são insuperáveis, basta que as pessoas façam valer aquilo que aprenderam e unam a religião à moralidade, que são coisas indissociáveis. Um adágio Yorùbá diz Ìwà l’èsìn, Èsìn ni Ìwà (religião é uma exibição de moralidade, moralidade é o maior ato de adoração). Por isso é que os adeptos das diversas religiões devem saber e acatar que nossos atos de adoração só se tornarão dignos e significativos ao Criador, se eles forem acompanhados pela ética e pela moral.

Texto de Mário Filho
Bacharel em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, e Ciências da Religião (ambas pela PUC/SP)

domingo, 7 de agosto de 2011

E você? O que fez ou faz?

Este final de semana, uma experiência interessante me acometeu e gostaria de compartilhar com todos.

Tive a oportunidade de sentar em uma mesa juntamente com três evangélicos de diferentes segmentos. Todos eles, no passado, eram do candomblé. Todos iniciados, respectivamente nos Orisa Ogun (dois deles) e Osún.

Em determinado momento da conversa, que fluía de forma agradável, inevitavelmente o assunto se voltou para a religião. E por incrível que pareça, após o desconforto inicial, a conversa voltou a ser agradável.

Não é novidade para ninguém a intransigência dos evangélicos em seus posicionamentos contrários ao candomblé, relacionando todas as práticas rituais a oferendas ao demônio.

E pior: afirmam categoricamente que Orisa é o próprio demônio, que acaba possuindo o corpo daquele que não está em estado de graça com Deus, devido à constante prática do pecado.

Interessante que todos eles que me fizeram as afirmativas acima, falavam como se grande propriedade sobre o assunto tivessem. Afinal, são todos ex-macumbeiros. Todos freqüentaram durante anos o candomblé. Todos se deixaram envolver pelas promessas de ganhos fáceis. Todos se deixaram iludir pela beleza das festas e também pelas orgias que acontecem no final dessas mesmas belas festas. Todos se deixaram enganar por tudo aquilo que até hoje acontece (mas somente na casa do vizinho, não é? Rs!)

Bom, pelo pouco que me conhecem, devem estar pensando como pude afirmar acima que a conversa voltou a ser agradável... E por incrível que pareça, voltou sim...

Tive a oportunidade de mostrar para os três evangélicos ex-macumbeiros que a minha realidade não é a realidade que eles conheceram.

Tive a oportunidade de demonstrar que faço parte de uma cultura que eles infelizmente não tiveram a oportunidade de conhecer. Cultura essa que não se assemelha ao candomblé. E sabe porque não se assemelha? Porque a minha cultura é baseada em valores sólidos éticos e morais. Porque na minha casa não há a busca pelo ganho fácil em detrimento do destino de pessoas. Porque na minha cultura há o respeito pelo semelhante. Porque a minha cultura, assim como na religião ou doutrina deles, cremos na existência de um único Deus.

E sabem o que ouvi dos evangélicos ao final da conversa: Deus respeita a cultura!

Para muitos isso pode parecer uma grande perda de tempo. Outros podem afirmar que não se importam com a opinião de quem quer que seja, muito menos dos evangélicos.

Mas eu me importo sim. E sabem por quê? Se analisarmos a situação política atual do Pais em que vivemos, é clara a maciça representação dos evangélicos no setor responsável por criação das leis que regem a vida em sociedade.

Pois bem: se o resgate da cultura não se iniciar imediatamente, o candomblé (e por tabela a minha cultura), além de continuar na marginalização, será, em breve, reduzido à ilegalidade também.

Hoje, se pararmos para analisar a legislação penal, e se uma fiscalização efetiva houvesse, é claro que já poderiam enquadrar as nossas práticas rituais num sem número de infrações penais...

Nessa árdua batalha a minha contribuição foi pequena? Sem dúvida! Mas me sinto reconfortada por ter iniciado uma ação na defesa da minha ancestralidade, ao contrário da maioria, que teria até maior condição de alcançar um público infinitamente maior do que o meu, mas que prefere se esconder atrás da falta de humildade para reconhecer que para vivermos em sociedade, precisamos em primeiro lugar, ser aceitos.

E eu consegui ser aceita! Consegui que respeitassem a minha cultura! E isso me deixa feliz...

E você? O que fez ou está fazendo pela sua religião, pelo seu ancestral?