O Brasil
possui sua estrutura econômica pautada no consumismo. Muitas das vezes, nem
mesmo as representações do Sagrado ficam imunes à lógica do mercado.
Atualmente
nos deparamos com o homo religiosus
contemporâneo que direciona seus esforços para se relacionar com o Sagrado
e com suas representações. Toda essa demanda fortalece a constituição de um
mercado de consumo especializado na oferta de bens simbólicos da religião.
E a busca por esses bens religiosos tem por finalidade a satisfação dos
interesses do fiel consumidor.
Podemos
definir os bens simbólicos da religião como sendo os produtos e serviços
religiosos oferecidos no campo religioso, capazes de permitir pontos de contato
com o sagrado. São muitas vezes bens corriqueiros que, por vários atos
litúrgicos recebem atributos especiais que os identificam com o sagrado.
Toda a sociedade
brasileira é conhecida pela produção em alta escala de produtos e serviços. E
no campo religioso não é diferente. As instituições religiosas se ocupam também
em conceber produtos e serviços simbólicos da religião a fim de atender as
possíveis demandas de seu público alvo (fiel consumidor).
E no mercado
religioso também encontramos os modismos com vista a manter ou multiplicar o
seu capital simbólico (capacidade da Organização Religiosa de criar, recriar e
difundir os bens simbólicos da religião).
O exercício da
necessária liberdade da atividade religiosa em nosso país quebrou com os
monopólios religiosos anteriormente instalados. Por outro lado, propiciou a
desenfreada proliferação de instâncias promotoras do sagrado, estabelecendo uma
competitividade entre diversas organizações religiosas de nosso País. A
competição está atrelada a formação do maior número de seguidores.
Nesse
sentido, a organização religiosa passa a
se preocupar em agradar o fiel consumidor, sob pena de perdê-lo para o
concorrente que apresentar ambientes e práticas litúrgicas mais agradáveis aos
seus interesses.
Nos
ambientes religiosos as mensagens passam a ser articuladas cuidadosamente para
atrair um número cada vez maior de fiéis consumidores, deixando de lado a real e
necessária interpretação das orientações devidas a cada um dos seguimentos
religiosos.
A sociedade
brasileira, antes mesmo de formar cidadãos, preocupa-se em formar consumidores.
O mesmo se da no campo religioso. O mercado de consumo religioso tem suas
estratégias para cativar o fiel consumidor, produzindo-lhes inclusive, pseudo-necessidades
de consumo, que em sua esmagadora maioria se encontram em posição de
vulnerabilidade, seja ela econômica (frente às grandes potencias econômicas que
se tornam facilmente algumas instituições religiosas), técnica (incapacidade de
produção de bens simbólicos da religião) e/ou teológica (basta verificar a
dificuldade para sustentar pontos doutrinários de sua prática religiosa, mesmo
que participe do mercado religioso há muito tempo).
Assim, e deixando
de lado, no momento, as implicações legais que essa relação de consumo
instituída estabelece, é possível afirmar que as deturpações religiosas ocorridas
em nosso meio e mais recentemente atingindo também o culto a Ifá aqui no Brasil
- e possivelmente em diversos outros locais do planeta - se deve principalmente
à essa relação de consumo que pertence à nossa cultura, que em última
instância, visa estender o mercado com a atração de novos fiéis consumidores,
deixado de lado seus conceitos, preceitos, dogmas, e até mesmo a própria
identidade cultural, para agradar e atender as expectativas de possíveis novos
seguidores, atendendo assim à lógica de mercado consumerista que faz parte da
cultura brasileira.